Pequenas doses da sociedade sorvidas por mulheres em uma mesa de bar. Sem moderação.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A água do rio

[...] Lembro-me de, ainda criança, atravessar açude à nado, brincar no rio da fazenda, tomar banho de chuva sem medo molhar a roupa nova, quase me afogar na piscina da casa do tio Valmir... Lembro-me de tomar banhos que, hoje reconheço, demoraram mais que o necessário.
De minhas memórias mais recentes referente à água, duas são extremamente marcantes e cruelmente opostas: meu encontro com o Rio São Francisco, o “Velho Chico” e com o Rio Jaguaribe, o “Rio dos Jaguares”.



O “Velho Chico” proporcionou-me um revigoraste banho, recheado de risadas e brincadeiras com os amigos de movimento estudantil. Diante de um contato tão intenso, não só com o rio, mas com sua população ribeirinha, seria difícil não me interessar pelas discussões sobre a transposição daquelas águas. Acerquei-me de preocupações com o São Francisco. De volta do Juazeiro da Bahia para o meu Ceará, tomei conhecimento do surgimento de um comitê para a revitalização do Rio Jaguaribe. Por um instante, senti vergonha de minha preocupação com o “Velho Chico”. Preocupação válida, afinal, o Rio São Francisco é meu como brasileira e nordestina que sou, ou mesmo, como cidadã do mundo. Mas, como cearense, o Rio Jaguaribe é meu de uma forma ainda mais próxima e é de uma negligencia tamanha saber que o Jaguaribe precisa ser revitalizado e nem mesmo saber o que levou-o a perder a vida.

Minha segunda lembrança marcante aconteceu após a primeira reunião do comitê, em maio de 2008, em Limoeiro do Norte:
- Já foram ver o rio?
Perguntou o professor a mim, dois amigos e um jornalista.


Respondemos negativamente e o professor nos levou até o rio. Ele começou a falar sobre as margens do rio e sobre qualquer coisa que nem mesmo lembro, pois o que via era mais forte que a voz do professor: uma terra com uma cerca e um jumento dentro, mato, areia, lixo, muito lixo... O rio que o professor apontava não tinha água dentro. Ele apontava para um terreno seco, chamava-o de rio, falava dele como quem fala de um “rio de verdade” e aquilo feriu profundamente todas as imagens que meu imaginário infantil esperava de um rio.


Deve ser ridículo o que vou dizer, mas, apesar de saber o que encontraria, apesar de tratar-se do, até pouco tempo, maior rio seco do mundo, a cena me chocou. Falei ao professor que gostaria que todos vissem aquilo que eu estava vendo, conseqüentemente, que sentissem o estranhamento que senti. [...]
(trecho de um projeto em aberto...)

2 comentários:

  1. Não dá pra acreditar que essas fotos sejam de um rio! O "Velho Chico" parece ter ficado no passado mesmo. Espero que eu possa ver o seu trabalho em aberto concluido. O tema é muito bom!

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  2. Realmente as imagens são chocantes e nos faz refletir. Este poste me tocou bastante principalmente por ser ribeirinha, cresci as margens do "Velho Chico".
    Quando será que vamos acordar e fazermos algo para mudar situações como esse?!


    Parabéns menina pelo blog.

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